sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Faça amor não faça guerra

Copiado de G1-Mundo
A foto acima foi tirada após um quebra-quebra digno do esteriótipo do 3º mundo, após a derrota do time local na final do campeonato. O contexto da cena é inusitado para nós Brasileiros. Não se trata da depredação da Av. Paulista feita torcida do São Paulo Futebol Clube em 2005,  nem da depredação do estádio do Pacaembu pela torcida do Palmeiras, após derrota para o Cortinthians em 2010. Mas, surpreendente foi o fato de o evento ter ocorrido em uma das cidades com maior qualidade de vida do planeta: Vancouver, no Canadá, após uma final de hóquei. 

A foto em si mesma não apresenta nada de mais e apenas se remete aos fatos, ilustrando a reportagem jornalística, tendo sido difundida ao redor do mundo por inúmeros veículos de comunicação e informação. O valor arquivístico dela está parcialmente dissociado do episódio e liga-se às suas reproduções por tais mass medias, seja como registro de notícia veiculada, seja como referência à aquisição dos direitos de divulgação. De modo similar, os detentores dos direitos de autor, publicação e difusão também a guardarão como prova dos mesmos, em paralelo ao seu valor informativo.

O mesmo episódio, no entanto, foi responsável pela produção de outra imagem, muito mais relevante, do ponto de vista de nossa cultura e nossa história, que chegou a ser categorizada como "foto do ano", e retrata um casal em cenas românticas "calientes", no meio do asfalto durante o tumulto. A despeito do altíssimo valor histórico e cultural a reprodução dessa imagem guardará as mesmas relações arquivísticas de sua predecessora (reproduzida no início deste post); isto é: prova de execução de atividades (pela publicação/reprodução) para os mais diversos titulares (jornais, agências de notícias, este blog etc.) e/ou prova de direitos. A diferença está na atribuição de valor dada por nossa sociedade e cultura que, sem dúvida, atribuirá a ela importância imensamente superior aos outros cliques do evento, permitindo que ela quase supere os fatos jornalísticos retratados (o tumulto e a depredação) e se converta em ícone da não violência.

É nessa última acepção que este blog reproduz a candidata a "foto do ano 2011", desejando aos nossos internautas (leitores e colaboradores) um ano novo maravilhoso, com a apropriação de um velho bordão dos anos 1960-70:
Copiado de G1-Mundo

EM 2012 FAÇA AMOR, 

NÃO FAÇA guerra!!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Informação arquivística e patrimônio fotográfico


As duas fotos acima referem-se a um mesmo evento e, se corretamente contextualizadas historicamente, nos darão importantes informações sobre a colonia italiana de São Paulo dos anos 1930. Trata-se da inauguração do restaurante do Club Itália, em 1932, que depois, em 1934 virou Yacht Clube Itaupú. O clube foi fundado por imigrantes italianos, entre eles um Matarazzo e um Ramenzoni, na chamada Riviera Paulista na Represa de Guarapiranga. 

A qualidade das reproduções não ajuda muito, mas pode-se observar diversos aspectos socio-históricos na imagem, tais como: a separação de mulheres para uma tomada fotográfica, indumentária e ambientação etc. As imagens sem as informações acima ficariam completamente desprovidas de significado. 

Em termos arquivísticos, no entanto, tais informações são insuficientes, para que possamos saber: 
  • quem é o titular arquivísticos (fundo) dos documentos? 
  • estamos falando de um fundo arquivístico ou de uma coleção fotográfica? 
  • os documentos objetos da análise são os positivos de 1932, cópias posteriores ou a versão eletrônica? 
  • a que função arquivística os documentos estão relacionados com o titular?
Muitas podem ser as possibilidades de resposta para tais indagações, porém nem todas estarão corretas. Um dos maiores desafios da organização de documentos imagéticos de arquivo é o estabelecimento das informações contextuais arquivísticas. Normalmente, frente à dificuldade de tal tarefa, busca-se o trabalho com as informações de contexto histórico e do momento da criação da imagem como se fossem suficientes para dar conta das demandas informacionais do arquivo, que são distintas daquelas do consulente.

Como resolver especificamente o problema do contexto arquivístico das fotos acima? A página do clube atual, referente às informações históricas (veja aqui) não é nada esclarecedora. 

Aceita-se sugestões e responde-se a indagações sobre o percurso de tais imagens...

O desafio está lançado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pesquisa: Rede Mineira de Viação (RMV, "Ruim, mas vai"): 1931-1953

DIMENSÕES INFORMACIONAIS DE DOCUMENTOS IMAGÉTICOS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO NO BRASIL: 
o caso da Rede Mineira de Viação (1931 – 1953)

Niraldo J. Nascimento - Doutorado (2011-2014)
Orientador: Prof. Dr. André Porto Ancona Lopez
Linha de Pesquisa: Organização da Informação
Grupo de Pesquisa: Acervos Fotográficos
Faculdade de Ciência da Informação 
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCINF)

Resumo
Pesquisa, análise crítica, descrição e contextualização dos documentos imagéticos relacionados ao transporte ferroviário da Rede Mineira de Viação, de 1931 a 1953, especialmente fotografias, sua organicidade e recuperação em arquivos institucionais ou particulares à luz do contexto social-econômico, político e cultural. Como resultado, pretende-se a construção de uma base de dados de documentos imagéticos que reflita, em termos arquivísticos, o tema e período escolhidos, e que se configure como memória e fonte de pesquisa histórica.
Estação da RMV - 1948. Monte Carmelo (MG)
Objetivo Geral
Pesquisar e analisar os documentos imagéticos e seus arquivos institucionais e pessoais sobre a Rede Mineira de Viação, no período de 1931 a 1953, conhecida popularmente como "Ruim mas vai", de modo a realizar uma descrição crítica dos acervos e sua contextualização com os aspectos sócio-econômicos, políticos e culturais vivenciados pelo país no período citado.

Objetivos Específicos
Antigo mapa da malha ferroviária de MG
a) Recuperação da malha rodoviária da RMV e georeferenciamento de seus principais troncos e localidades;
b) Identificar os principais acervos de documentos imagéticos que compõem a história da Rede Mineira de Viação e realizar seu respectivo georeferenciamento;
c) Analisar os documentos e sua organização nos diferentes acervos, físicos ou digitais (suporte), institucionais ou pessoais e realizar uma análise crítica dos mesmos à luz das teorias e metodologias arquivísticas selecionadas;
d) Verificar se os documentos imagéticos e seus respectivos acervos têm representatividade com os aspectos sócio-econômicos, políticos e culturais do período;
e) Resgatar, através de entrevistas pessoais com os principais agentes e/ou seus familiares, a memória do período e contrapô-la à descrição dos documentos imagéticos existentes;
f) Compor uma descrição associada da documentação imagética e dos acervos com o contexto dos mesmos, dentro de uma perspectiva iconográfica e iconológica, compondo uma base de dados computadorizada.

Metodologia
RMV - Viagem a Caxambu (1934)
A pesquisa pretende fazer um percurso pelo tempo e espaço dos documentos imagéticos, tempo esse definido pelo período delimitado e, o espaço, representado em três abordagens diferentes: identificação do espaço geográfico (físico) percorrido pela RMV, o espaço cibernético (virtual) dos acervos e coleções e, finalmente, o espaço físico dos acervos e agentes ligados ao tema, caracterizando uma pesquisa in loco. Tal percurso, corresponde igualmente, à caracterização do universo da pesquisa, sujeito aos recortes que se fizerem necessários.
Estação da RMV em Santa Rita do Jacutinga (MG)
RMV - Ponte sobre o Rio Verde - Soledade de Minas (MG)
  • Delineamento do desenvolvimento da rede física da RMV. Para isso será realizada uma pesquisa histórica dos mapas geográficos existentes adotando as metodologias que se fizerem necessárias;
  • Identificação na Web, com base na área geográfica delineada, dos principais acervos virtuais disponíveis;
  • Identificação e descrição dos documentos imagéticos disponíveis;
  • Identificação, com base na área geográfica delineada, dos principais acervos físicos disponíveis;
  • Levantamento do contexto sócio-econômico, político e cultural do período, através de pesquisa documental, adotando as metodologias que se fizerem necessárias;
  • Visita, in loco, aos principais acervos e coleções, registro fotográfico dos mesmos e digitalização dos documentos mais relevantes;
  • Concomitante ao procedimento descrito no item anterior será realizada uma pesquisa com os agentes humanos envolvidos de forma a mapear narrativas que contribuam para a descrição dos documentos imagéticos.
Produto Final
Imagem meramente ilustrativa da ideia do BD
O produto final será a criação da base de dados computadorizada dos documentos imagéticos georreferenciados e referendados pela pesquisa.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fotografar para ocultar?

Imagens copiadas de Chocolá Design

Olhe atentamente para as imagens acima e diga o que elas têm em comum? Se você localizou o Homem Invisível, acertou; parabéns! já pode se candidatar para analisar imagens de camuflagem junto às Forças Armadas. Se ainda não viu ninguém, clique nas fotos para vê-las em tamanho maior e tente localizar Wally, quer dizer Liu Bolin. Na imagem do supermercado é mais fácil, porém custei a encontrá-lo na foto do trator. 

O efeito visual incrível só é obtido após uma árdua preparação do modelo, literalmente pintado de acordo com o fundo da cena, nos  mínimos detalhes. A respiração do modelo também influencia e as fotos divulgadas provavelmente representam uma escolha de um incontável conjunto de takes e testes. O ângulo e iluminação para a tomada da imagem também são essenciais para que a ilusão funcione. A perspectiva, que jamais nos dará a profundidade de uma cena, apenas sua simulação (por convenção, familiaridade e iconicidade) também colabora bastante. 

Em uma cena real, ao vivo, em 3D, poderíamos ser momentaneamente iludidos apenas. Um simples movimento de nosso corpo, de nossa cabeça, que nos fizesse mudar o foco da visão, imediatamente destruiria a "magia" da cena. Ser mágico de show deve ser mais complicado do que homem invisível de fotos; daí a necessidade que o primeiro tem de buscar artifícios para "congelar" a atenção do público. No segundo caso, o esforço está em manter-se congelado junto com todo o ambiente no momento do click.

A brincadeira nos coloca importantes questões do ponto de vista do tratamento com a informação fotográfica, na medida em que não podemos acreditar que sempre iremos conseguir identificar todos os elementos de uma imagem fotográfica. Por vezes eles poderão estar ocultos, intencionalmente (como nos exemplos acima), acidentalmente (e podermos nunca nos dar conta disso), tecnicamente (como a ausência de pessoas em grandes cidades em fotos início do século XX), ou até mesmo historicamente (elementos que não são imediatamente identificáveis pela nossa atual cultura visual, mas que poderiam sê-los no passado). 

No caso dos arquivos, se o contexto arquivístico de criação arquivística não for considerado como elemento qualificador do documento o risco de perda de organicidade é muito grande e pode comprometer irremediavelmente sua qualidade de documento de arquivo. Não se trata de cair da falácia positivista da "objetividade" Vs. "subjetividade", porém de tentar entender o documento dentro do complexo ambiente no qual se originou (e sua compreensão vai muito mais além do registro fotográfico, englobando a cultura, a técnica, as pessoas, os equipamentos, a história etc.) naquilo que é a parcela mais invariável de tal complexidade.

A questão que se coloca, então, é como tratar arquivisticamente documentos imagéticos que nos ocultam informações visuais fundamentais. A resposta é simples, tratando-os como documentos de arquivo, isto é: compreendendo antes suas informações e vínculos contextuais. No exemplo deste post a organização de fotos que têm por função principal camuflar o modelo apresentarão uma solução bastante distinta da organização que seria dada a fotos sobre máquinas de construção civil e comércio varejista.

Recentemente Joan Boadas proferiu palestra sobre patrimônio fotográfico e indicou a necessidade de uma compreensão mais lata e ampla do conceito de patrimônio, que não pode ser restrito às imagens. Isabel Wschebor agregou comentário sobre a importância da contexto arquivístico como elemento mais invariável para direcionar o delicado processo sistematização de significado informacional aos documentos fotográficos de arquivo. 
  • Algumas diretrizes básicas que nortearam a abordagem sobre patrimônio na palestra de Joan Boadas podem ser vistas aqui
  • A mencionada palestra pode ser vista na íntegra aqui (é o vídeo com 2h:34min:45seg).
  • Breves informações sobre Joan Boadas podem ser obtidas aqui
  • Breves informações sobre Isabel Wschebor podem ser obtidas aqui