terça-feira, 10 de maio de 2011

Imagem de Bin Laden morto

Rene Magritte - Le sens propre- IV
(copiado de Mark Young's  Series Magritte)
Osama Bin Laden está morto. É o que dizem. A despeito das inúmeras informações divulgadas na mídia, confirmadas pela Al Quaeda -- que seria a grande interessada em desmenti-la --, a dúvida ainda paira no ar, em função da não divulgação de uma foto do corpo de Osama Bin Laden.

Copiado de Geração de 60
Em 1967 a morte do maior ícone político produzido após a Segunda Guerra mundial foi fartamente documentada, em termos fotográficos. A qualidade de "prova do real" atribuída ao registro do fato foi decisiva para a ampla divulgação das imagens, feita com o fito de consumar na opinião pública a morte do guerrilheiro e, com isso (ao lado de um fortíssimo esquema de repressão), supostamente, desestimular a proliferação de seguidores. O convencimento operado pela exibição do troféu foi eficiente a ponto de, com a morte do herói, criar-se o mito, que tem como referencial imagético a célebre imagem de Korda, hoje vulgarizada até em produtos de moda e publicidade.
                         Copiado de Socialist Party                                      Copiado de G1

Copiado de Darryl Wolk
Em 2006 a invasão do Iraque, e a subsequente captura de Saddan Hussein, foi fartamente documentada pelos mass media. O problema da destinação a ser dada pela coalizão estadunidense ao ex-aliado (promovido a ditador) tornou-se uma questão mais sensível. Como eliminar o ilustre prisioneiro de guerra, de modo documentado, sem correr o risco de criar um novo mito (o que era o ponto mais sensível)? A solução encontrada foi a divulgação de uma "acidental" imagem feita por telefone celular, que serviu para "comprovar" a morte de Saddan, com caráter semi-oficial.

Hoje, novamente um inimigo dos Estados Unidos foi executado, porém os elementos comprobatórios dados à opinião pública são insuficientes para que a efetividade da ação seja unimanente reconhecida (tanto como efetiva, ou como legítima). O atributo da fotografia como "prova do real", mesmo em uma realidade abertamente reconhecida como photoshopável, continua presente. As demandas por uma imagem definitiva vêm de diferentes origens:
  • mórbidos de plantão, ávidos por sangue; 
  • ultranacionalistas de direita, sedentos por um troféu; 
  • o público mediodre de telenoticiários, incapaz de aceitar uma notícia sem ilustrações; 
  • analistas internacionais, vigilantes da conformidade dos procedimentos adotados pelos Seals;
  • seguidores de Bin Laden, a busca de uma imagem que possa ser fundadora de nova mitologia. 

Copiado de Revolutionary Program
A imagem oficial do acompanhamento da execução da Operação Tridente de Netuno pela alta cúpula do governo estadunidense não tem surtido o efeito exigido por uma fotografia conclusiva, a despeito de Hillary Clinton ter dito que foram os "38 minutos mais intensos" da vida dela (mesmo já tendo sido primeira dama por 8 anos).

O movimento de divulgação de imagens de inimigos do Estado Unidos mortos passou de uma política de ostensividade, nos anos 1960, para uma "acidental" discrição em 2006. Atualmente, a menos que alguma imagem da execução de Bin Laden "vaze", "sem querer", a postura tem sido a da censura, em uma atitude surreal, à Magritte:
Montagem de André Lopez

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Arquivos fotográficos no site WikiLeaks

Copiado do WikiLeaks Central
Taiguara Vilella 
(professor de arquivologia da UFES, mestre em 
História Social - USP, gnose888@gmail.com)

A partir de uma reunião realizada na Universidade Federal do Espírito Santo sobre a viabilização de um Doutorado Interinstitucional em Ciências da Informação com a Universidade de Brasília (UnB), se colocou a necessidade do mapeamento do perfil de pesquisa para os possíveis candidatos. A partir deste enfoque, o seguinte tema poderia ser desenvolvido com orientação do profº Drº André Porto Ancona Lopez - "Arquivos fotográficos no site WikiLeaks: estudo do vazamento de fotografias Still", a partir de material classificado como Top Secret/SCI level acerca dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque. No que tange ao Acervo Fotográfico publicado no site WikiLeaks, existem questões-problemas a serem respondidas sobre as fotografias Still de Bagdá/Iraque. Abaixo é apresentado uma série de chaves-problematizante como diretriz inicial ao desenvolvimento da pesquisa onde a problematização encadeada resultaria em partes ou capítulos de uma possível tese como se segue: 

1ª Chave de questões 
Análise dos Arquivos Fotográficos 


 
Copiado de WikiLeaks Collateral Murder 35 e 36
1a ) Que tipo de fotografias foram publicadas no site WikiLeaks?
1b) Este material pode ser considerado como arquivos fotográficos?
1c) Que características demonstram que estas fotografias podem ser identificadas como arquivos?
1d) Quais são os elementos destas fotografias e sua confiabiliddae?
1e) Que análises podem ser feitas destas fotografias?
1f) Qual narrativa imagética pode ser compreendida a partir destas fotografias?
2ª Chave de questões 
Gênese Documental e Contextos Envolventes 

Copiado de Anderson D'Ávila
2a) Qual a gênese documental destas fotografias?
2b) Qual o contexto da gênese documental de produção das fotografias Still e do evento que as fotografias retratam (guerra americana contra Iraque e sua ocupação)?
2c) Quais informações, como evidência, estão contidas nestas fotografias, tanto do ponto de vista dos documentos de arquivo, como dos materiais imagéticos?
2d) Como as evidências imagéticas se articulam em relação aos crimes de guerra?
2e) Qual o contexto de publicação dos arquivos fotográficos no site WikiLeaks?
2f) Qual o contexto de surgimento e proposta de publicação do próprio site WikiLeaks enquanto meio público de TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação? 
3ª Chave de questões
Classificação Arquivística, Graus de Sigilo e domínios sobre a Verdade 
Copiado de Green Left
3a) A partir do estatuto probatórios do arquivo, o que podem provar estes arquivos fotográficos (e informações enquanto evidências) no que tange aos crimes de guerra cometidos pelo Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque?
3b) A informação, como evidência materializada pelos arquivos fotográficos, poderia atender a demandas de juristas e pesquisadores por verdades jurídicas e também sócio-históricas sobre o episódio de crime de guerra fotografado?
3c) Quais parâmetros foram adotados na Classificação Arquivística destas imagens quanto a natureza das informações e grau de sigilo?
3d)Qual vínculo causal fundamentaria a classificação destas fotografias como Top Secret/SCI level?
3e) Quais teorias poderiam elucidar a classificação arquivística quanto ao grau de sigilo?
3f) Quais seriam as consequências penais para o governo estadunidense caso o vazamento de fotografias que retratam seus crimes de guerra forem levados ao poder judiciário nacional e internacional? 
4ª Chave de questões
Direitos Humanos versus Segredos de Estados: conflitos de interesse entre os cidadãos e o governo 
Copiado de Okay Geek
Copiado de Law Inter Alia
4a) Que consequências e penalidades estão sendo imputadas ao informante da Inteligência Americana por ter colaborado com o site WikiLeaks com imagens dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos?
4b) Quais são os interesses conflitantes entre a classificação arquivística entre "público e o secreto"?
4c) Quais são os interesses conflitantes entre o público e o secreto no caso retratado pelas fotografias em questão?
4d) Qual o choque entre legislações nacionais/mundiais sobre livre acesso a informação como garantia a cidadania e a opacidade do Estado em relação as fotografias publicadas pela WikiLeaks?
Copiado de Stories & News   Copiado de O portal do Infinito   
4e) Quais incompatibilidades entre o discurso atual de "Governaibilade Democrática e Transparência Administrativa" com a manuteção do sigilo aos documentos e as punições e perseguições aos componentes e colaboradores do site WikiLeaks?
4f) Seria um crime ou mérito expor, revelar e denunciar publicamente crimes de guerra através de imagens atendendo interesse comum entre cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?

5ª Chave de questões
Conclusões sobre o direto a cidadania e sua relação com os valores probatórios e informativos de arquivos fotográficos
Copiado de Urban Love dec.18.2010
5a) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe crimes de guerra por interesse público?
5b) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe informações públicas de interesse comum entre outros cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?
5c) Quais são os mecanismos legais para proteger toda pesquisa que resultar em publicação de material classificado de interesse da cidadania e liberdade de informação e expressão?
5d) Seria um crime proibir ou perseguir publicações como WikiLeaks?
5e) Qual o valor probatório e o valor informativo das fotografias em pauta no site WikiLeaks para Tribunais e Sociedades Civis?
5f) Qual conclusões é possível chegar sobre a exposições de provas imagéticas de crimes de guerra e sua da reação opressiva por parte dos estados em relação a liberdade de informação, aos direitos humanos e a cidadania?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Nasce uma nova ciência, será?

Copiado de Secure Business Infrastructure
Será que o processo de produção automática de imagens, quem tem raízes na fotografia e, posteriormente, na digitalização poderia ser o responsável pela formação de uma nova área do conhecimento, uma nova ciência? A Imaging.org se autodefine como "Society for Imaging Science and Technology". Antes mesmo de entrar em considerações de ordem teórica é necessário tentar entender melhor o termo "imaging", cuja tradução para o português é bem problemática. "Imaging" seria o processo de imaginar, mas que não é sinônimo de imaginação. Tampouco seria possível tentar uma nova palavra, como por exemplo, "imaginologia", uma vez que o sufixo "ing" remeteria ou a uma ação/processo ou, até mesmo, a uma técnica. Apesar do estranhamento inicial, a palavra "imagística" já começa a ser utilizada em alguns espaços virtuais. Há algum tempo atrás, o uso do vocábulo "imagético" (ver post aqui) sempre necessitava de algumas linhas explicativas quando usado em situações acadêmicas. Tanto eu (em 2001), como Aline Lacerda (em 2008), fomos questionados em nossas defesas de doutorado sobre a pertinência do termo. Hoje imagético tem sido cada vez mais utilizado, tornando-se mais familiar (o que não justifica a ausência de que haja uma definição conceitual, pelo contrário). Será que o mesmo ocorrerá com a imagística? Meu colega Mike Carden, dos Arquivos Nacionais da Austrália, escreveu-me, sem nenhuma observação conceitual preliminar: "entendo que a ciência da imagística digital tem suas raízes no scaneamento e na fotografia. Essa área, porém, com grandes projetos em curso em todo o mundo para digitalização de documentos de papel para o acesso, tem sérios desafios quanto à preservação". 

O processo de produção de imagens automáticas têm estado cada vez mais presente nos microscópios de grande precisão e resolução, em diversas áreas de diagnóstico de saúde, na preservação de documentos, na produção de documentos de identificação e na sua validação, na migração de informações e, até mesmo, no controle de trânsito. Sabemos que a existência de uma sociedade científica internacional e a busca e aprimoramento constante em termos de inovação podem caracterizar, contemporaneamente, um campo científico, mas será que são suficientes? Será que o estudo dos acervos fotográficos poderia estar inserido em tal área? Ou isso dependeria do enforque a ser dado aos acervos (como objeto de estudo)? Será que a imagística propicia (ou tenta, ou permite) uma explanação para melhor entender fenômenos? Não há dúvida que algumas de suas técnicas permitem que isso seja feito por outras áreas, mas será que ela tem potencial para fazê-lo de modo mais autônomo? 

Muitas questões e nenhuma resposta conclusiva. Mais informações para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o problema podem ser buscadas no portal da sociedade internacional em http://www.imaging.org. Há também uma conferência internacional prevista para breve, cujo programa pode ser baixado aqui.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Programa da disciplina Acervos Fotográficos do PPGCINF-UnB

Copiado de Manchester Archive

A disciplina "Acrevos Fotográficos", optativa em "Seminários em Organização da Informação", do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, publiciza seu programa e calendário para o semestre 1/2011. As aulas ocorrerão nas dependências do CEDOC/UnB, onde os alunos terão que problematizar questões de bibliografia interdisciplinar, correlata à temática, com fotografias do acervo. Prevê-se que tais reflexões possam ser compartilhadas na forma de post (neste blog, ou em outros). Confira o calendário, com dados resumidos, abaixo e/ou baixe o programa completo aqui.

15/abr 
Lopez, A. Documento de arquivo como produto/vetor do contexto histórico-cultural. (cap 1 de minha tese)
Panofsky, E. Iconografia e iconologia: uma introdução ao estudo da arte da renascença. (disponível aqui)

29/abr 
Lopez, A. Documentos imagéticos de arquivo: uma tentativa de utilização de alguns conceitos de Panofsky. (disponível aqui
Neiva Jr., E. A imagem.  (disponível aqui

06/mai 
Gombrich, Ernst H. Intoducción: el arte y los artistas. (disponível aqui)
Panofsky, E. Introdução: a histórias da arte como uma disciplina humanística. (disponível aqui

13/mai 
Baxandall, M. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença. (disponível em duas partes: aqui e aqui).

20/mai 
Deregowski, J. Illusion and culture. (disponível aqui * a cópia está péssima, mas foi a melhor possível)
Gombrich, Ernst H. Psicologia e o enigma do estilo. (disponível aqui)
Gombrich, Ernst H. Condições da ilusão.(está no arquivo anterior)

27/mai 
Duranti, L. The concept of appraisal and archival theory (disponível aqui).
Lopez, A. Documento de arquivo como resultado de processos e funções. (cap 3 de minha tese)

03/jun
Duranti, L. Registros documentais contemporâneos como provas de ação (disponível aqui).
Lacerda, A. Fotografia como documento de arquivo. (cap2 da tese da Aline)

10/jun
Black, M. ¿Cómo representan las imágenes? (disponível aqui)
Lopez, A. Contextualização arquivística de documentos imagéticos. (cap 4 de minha tese)
Lopez, A. Recontextualização de documentos imagéticos. (cap 5 de minha tese)

17/jun
Benjamin, W. Pequena história da fotografia (disponível aqui).
Dubois, Ph. Da verossimilhança ao índice: pequena retrospectiva histórica sobre a questão do realismo na fotografia (disponível aqui)
Kossoy, B. Construção e desmontagem do signo fotográfico (disponível aqui).

01jul
Heredia Herrera, A. La fotografía y los archivos (disponível aqui).
Lacerda, A. O documento fotográfico nos manuais de arquivística. (Cap 1 da tese da Aline)
Lopez. Photographic document as image archival document (disponível aqui, em diferentes formatos de divulgação).

08/jul
Lopez, A. El contexto archivístico como directriz para la gestión documental de materiales fotográficos de archivo (disponível aqui).
Parinet, E. Diplomatics and institucional photos (disponível aqui).
Smit, J. A representação da imagem (disponível aqui). 

15/jul 
Brito, L. Histórias e memórias institucionais captadas a partir do estudo de acervos fotográficos (disponível aqui). 
Lopez, A. La Clasificación archivística como una actividad previa para la descripción de documentos imagéticos (disponível aqui).

terça-feira, 5 de abril de 2011

Atividades desta sexta-feira


Nesta sexta-feira pegaremos carona na aula inaugural do curso de museologia, que será ministrada pelo Prof. Dr. Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes, um dos maiores especialistas nacionais em cultura material. O foco da aula não será o documento fotográfico, porém a questão da curadoria, que envolve, em alguma medida, a concepção cultural dos bens simbólicos, aspecto fundamental para a discussão de nosso texto-base da aula (Iconografia e Iconologia, de Panofsky). Na segunda parte da aula, após a palestra, nos reuniremos na sala 120 para um debate mais focado no tema da disciplina, agregando ainda os dois primeiros capítulos da tese "As razões e os sentidos" à reflexão.