terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Informação arquivística e patrimônio fotográfico


As duas fotos acima referem-se a um mesmo evento e, se corretamente contextualizadas historicamente, nos darão importantes informações sobre a colonia italiana de São Paulo dos anos 1930. Trata-se da inauguração do restaurante do Club Itália, em 1932, que depois, em 1934 virou Yacht Clube Itaupú. O clube foi fundado por imigrantes italianos, entre eles um Matarazzo e um Ramenzoni, na chamada Riviera Paulista na Represa de Guarapiranga. 

A qualidade das reproduções não ajuda muito, mas pode-se observar diversos aspectos socio-históricos na imagem, tais como: a separação de mulheres para uma tomada fotográfica, indumentária e ambientação etc. As imagens sem as informações acima ficariam completamente desprovidas de significado. 

Em termos arquivísticos, no entanto, tais informações são insuficientes, para que possamos saber: 
  • quem é o titular arquivísticos (fundo) dos documentos? 
  • estamos falando de um fundo arquivístico ou de uma coleção fotográfica? 
  • os documentos objetos da análise são os positivos de 1932, cópias posteriores ou a versão eletrônica? 
  • a que função arquivística os documentos estão relacionados com o titular?
Muitas podem ser as possibilidades de resposta para tais indagações, porém nem todas estarão corretas. Um dos maiores desafios da organização de documentos imagéticos de arquivo é o estabelecimento das informações contextuais arquivísticas. Normalmente, frente à dificuldade de tal tarefa, busca-se o trabalho com as informações de contexto histórico e do momento da criação da imagem como se fossem suficientes para dar conta das demandas informacionais do arquivo, que são distintas daquelas do consulente.

Como resolver especificamente o problema do contexto arquivístico das fotos acima? A página do clube atual, referente às informações históricas (veja aqui) não é nada esclarecedora. 

Aceita-se sugestões e responde-se a indagações sobre o percurso de tais imagens...

O desafio está lançado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pesquisa: Rede Mineira de Viação (RMV, "Ruim, mas vai"): 1931-1953

DIMENSÕES INFORMACIONAIS DE DOCUMENTOS IMAGÉTICOS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO NO BRASIL: 
o caso da Rede Mineira de Viação (1931 – 1953)

Niraldo J. Nascimento - Doutorado (2011-2014)
Orientador: Prof. Dr. André Porto Ancona Lopez
Linha de Pesquisa: Organização da Informação
Grupo de Pesquisa: Acervos Fotográficos
Faculdade de Ciência da Informação 
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCINF)

Resumo
Pesquisa, análise crítica, descrição e contextualização dos documentos imagéticos relacionados ao transporte ferroviário da Rede Mineira de Viação, de 1931 a 1953, especialmente fotografias, sua organicidade e recuperação em arquivos institucionais ou particulares à luz do contexto social-econômico, político e cultural. Como resultado, pretende-se a construção de uma base de dados de documentos imagéticos que reflita, em termos arquivísticos, o tema e período escolhidos, e que se configure como memória e fonte de pesquisa histórica.
Estação da RMV - 1948. Monte Carmelo (MG)
Objetivo Geral
Pesquisar e analisar os documentos imagéticos e seus arquivos institucionais e pessoais sobre a Rede Mineira de Viação, no período de 1931 a 1953, conhecida popularmente como "Ruim mas vai", de modo a realizar uma descrição crítica dos acervos e sua contextualização com os aspectos sócio-econômicos, políticos e culturais vivenciados pelo país no período citado.

Objetivos Específicos
Antigo mapa da malha ferroviária de MG
a) Recuperação da malha rodoviária da RMV e georeferenciamento de seus principais troncos e localidades;
b) Identificar os principais acervos de documentos imagéticos que compõem a história da Rede Mineira de Viação e realizar seu respectivo georeferenciamento;
c) Analisar os documentos e sua organização nos diferentes acervos, físicos ou digitais (suporte), institucionais ou pessoais e realizar uma análise crítica dos mesmos à luz das teorias e metodologias arquivísticas selecionadas;
d) Verificar se os documentos imagéticos e seus respectivos acervos têm representatividade com os aspectos sócio-econômicos, políticos e culturais do período;
e) Resgatar, através de entrevistas pessoais com os principais agentes e/ou seus familiares, a memória do período e contrapô-la à descrição dos documentos imagéticos existentes;
f) Compor uma descrição associada da documentação imagética e dos acervos com o contexto dos mesmos, dentro de uma perspectiva iconográfica e iconológica, compondo uma base de dados computadorizada.

Metodologia
RMV - Viagem a Caxambu (1934)
A pesquisa pretende fazer um percurso pelo tempo e espaço dos documentos imagéticos, tempo esse definido pelo período delimitado e, o espaço, representado em três abordagens diferentes: identificação do espaço geográfico (físico) percorrido pela RMV, o espaço cibernético (virtual) dos acervos e coleções e, finalmente, o espaço físico dos acervos e agentes ligados ao tema, caracterizando uma pesquisa in loco. Tal percurso, corresponde igualmente, à caracterização do universo da pesquisa, sujeito aos recortes que se fizerem necessários.
Estação da RMV em Santa Rita do Jacutinga (MG)
RMV - Ponte sobre o Rio Verde - Soledade de Minas (MG)
  • Delineamento do desenvolvimento da rede física da RMV. Para isso será realizada uma pesquisa histórica dos mapas geográficos existentes adotando as metodologias que se fizerem necessárias;
  • Identificação na Web, com base na área geográfica delineada, dos principais acervos virtuais disponíveis;
  • Identificação e descrição dos documentos imagéticos disponíveis;
  • Identificação, com base na área geográfica delineada, dos principais acervos físicos disponíveis;
  • Levantamento do contexto sócio-econômico, político e cultural do período, através de pesquisa documental, adotando as metodologias que se fizerem necessárias;
  • Visita, in loco, aos principais acervos e coleções, registro fotográfico dos mesmos e digitalização dos documentos mais relevantes;
  • Concomitante ao procedimento descrito no item anterior será realizada uma pesquisa com os agentes humanos envolvidos de forma a mapear narrativas que contribuam para a descrição dos documentos imagéticos.
Produto Final
Imagem meramente ilustrativa da ideia do BD
O produto final será a criação da base de dados computadorizada dos documentos imagéticos georreferenciados e referendados pela pesquisa.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fotografar para ocultar?

Imagens copiadas de Chocolá Design

Olhe atentamente para as imagens acima e diga o que elas têm em comum? Se você localizou o Homem Invisível, acertou; parabéns! já pode se candidatar para analisar imagens de camuflagem junto às Forças Armadas. Se ainda não viu ninguém, clique nas fotos para vê-las em tamanho maior e tente localizar Wally, quer dizer Liu Bolin. Na imagem do supermercado é mais fácil, porém custei a encontrá-lo na foto do trator. 

O efeito visual incrível só é obtido após uma árdua preparação do modelo, literalmente pintado de acordo com o fundo da cena, nos  mínimos detalhes. A respiração do modelo também influencia e as fotos divulgadas provavelmente representam uma escolha de um incontável conjunto de takes e testes. O ângulo e iluminação para a tomada da imagem também são essenciais para que a ilusão funcione. A perspectiva, que jamais nos dará a profundidade de uma cena, apenas sua simulação (por convenção, familiaridade e iconicidade) também colabora bastante. 

Em uma cena real, ao vivo, em 3D, poderíamos ser momentaneamente iludidos apenas. Um simples movimento de nosso corpo, de nossa cabeça, que nos fizesse mudar o foco da visão, imediatamente destruiria a "magia" da cena. Ser mágico de show deve ser mais complicado do que homem invisível de fotos; daí a necessidade que o primeiro tem de buscar artifícios para "congelar" a atenção do público. No segundo caso, o esforço está em manter-se congelado junto com todo o ambiente no momento do click.

A brincadeira nos coloca importantes questões do ponto de vista do tratamento com a informação fotográfica, na medida em que não podemos acreditar que sempre iremos conseguir identificar todos os elementos de uma imagem fotográfica. Por vezes eles poderão estar ocultos, intencionalmente (como nos exemplos acima), acidentalmente (e podermos nunca nos dar conta disso), tecnicamente (como a ausência de pessoas em grandes cidades em fotos início do século XX), ou até mesmo historicamente (elementos que não são imediatamente identificáveis pela nossa atual cultura visual, mas que poderiam sê-los no passado). 

No caso dos arquivos, se o contexto arquivístico de criação arquivística não for considerado como elemento qualificador do documento o risco de perda de organicidade é muito grande e pode comprometer irremediavelmente sua qualidade de documento de arquivo. Não se trata de cair da falácia positivista da "objetividade" Vs. "subjetividade", porém de tentar entender o documento dentro do complexo ambiente no qual se originou (e sua compreensão vai muito mais além do registro fotográfico, englobando a cultura, a técnica, as pessoas, os equipamentos, a história etc.) naquilo que é a parcela mais invariável de tal complexidade.

A questão que se coloca, então, é como tratar arquivisticamente documentos imagéticos que nos ocultam informações visuais fundamentais. A resposta é simples, tratando-os como documentos de arquivo, isto é: compreendendo antes suas informações e vínculos contextuais. No exemplo deste post a organização de fotos que têm por função principal camuflar o modelo apresentarão uma solução bastante distinta da organização que seria dada a fotos sobre máquinas de construção civil e comércio varejista.

Recentemente Joan Boadas proferiu palestra sobre patrimônio fotográfico e indicou a necessidade de uma compreensão mais lata e ampla do conceito de patrimônio, que não pode ser restrito às imagens. Isabel Wschebor agregou comentário sobre a importância da contexto arquivístico como elemento mais invariável para direcionar o delicado processo sistematização de significado informacional aos documentos fotográficos de arquivo. 
  • Algumas diretrizes básicas que nortearam a abordagem sobre patrimônio na palestra de Joan Boadas podem ser vistas aqui
  • A mencionada palestra pode ser vista na íntegra aqui (é o vídeo com 2h:34min:45seg).
  • Breves informações sobre Joan Boadas podem ser obtidas aqui
  • Breves informações sobre Isabel Wschebor podem ser obtidas aqui

terça-feira, 29 de novembro de 2011

WICI discutirá temáticas relacionadas às fotografias


O já tradicional evento do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UnB deste ano terá uma especial atenção para o universo das fotografias. A palestra de abertura contará com a presença do coordenador do grupo de trabalho do Conselho Internacional de Arquivos sobre arquivos fotográficos e audiovisuais - PAAG (ver aqui), o diretor do Arquivo de Girona (Catalunya) Joan Boadas. A palestra de encerramento terá como convidada Isabel Wschebor do Arquivo Municipal de Montevideo e também pesquisadora do PAAG. O Grupo de pesquisa Acervos Fotográficos (GPAF) ainda promoverá uma reunião aberta, que contará com a presença dos ilustres convidados.

O 7º WICI é aberto para o público em geral, sem necessidade de inscrições. Além disso, contará com transmissão on-line em tempo real, para os demais interessados. Maiores informações (bem como o acesso à TV-WICI) podem ser obtidas diretamente aqui.

Atenção para as datas e horários dos eventos de maior interesse para os participantes deste blog:

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Memórias fotográficas: a história das salas de cinema de Vitória


O livro Memórias Fotográficas das Salas de Cinema de Vitória contempla alguns dos cinemas que funcionaram em Vitória, apesar do título também apresenta imagens dos cinemas da Região Metropolitana e do interior do estado. O trabalho é um resultado da pesquisa do projeto CINEMEMÓRIA - A História das salas de cinema do Espírito Santo, com a coordenação do Professor André Malverdes do Departamento de Arquivologia da UFES durante 11 anos de pesquisa em arquivos públicos, jornais, acervos pessoais e familiares. 

O livro tem patrocínio da Lei Rubem Braga da Prefeitura Municipal de Vitória e da Arcellor Mittal, com apoio do Departamento de Arquivologia da UFES, Programa de Pós Graduação em História/UFES, Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Associação dos Arquivista do ES, Gráfica Santo Antônio e Rima Comunicação Estratégica. A obra apresenta 110 imagens que contemplam as salas de cinema no ES desde o seu primórdio em 1907 até a década de 1990 com fotos das inaugurações, estréias, interiores, público, fachadas e notícias dos jornais e revistas do estado.

O livro estará a venda na Livraria da UFES no campus de Goiabeiras, no Sebo Veredas na Rua da Lama e durante o lançamento com palestra do autor em local e data ainda a ser confirmado. Esperamos que este trabalho possibilite a todos a satisfação de um passeio pelos “cinemas de calçada”, que era, então, a maior diversão da população. Entendemos que, assim como à época, o prazer de ir ao cinema é, ainda hoje, sinônimo de sonho e magia.

Mais informações:
Andre Malverdes (malverdes@gmail.com)
Professor do Departamento de Arquivologia/UFES