quarta-feira, 4 de maio de 2011

Arquivos fotográficos no site WikiLeaks

Copiado do WikiLeaks Central
Taiguara Vilella 
(professor de arquivologia da UFES, mestre em 
História Social - USP, gnose888@gmail.com)

A partir de uma reunião realizada na Universidade Federal do Espírito Santo sobre a viabilização de um Doutorado Interinstitucional em Ciências da Informação com a Universidade de Brasília (UnB), se colocou a necessidade do mapeamento do perfil de pesquisa para os possíveis candidatos. A partir deste enfoque, o seguinte tema poderia ser desenvolvido com orientação do profº Drº André Porto Ancona Lopez - "Arquivos fotográficos no site WikiLeaks: estudo do vazamento de fotografias Still", a partir de material classificado como Top Secret/SCI level acerca dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque. No que tange ao Acervo Fotográfico publicado no site WikiLeaks, existem questões-problemas a serem respondidas sobre as fotografias Still de Bagdá/Iraque. Abaixo é apresentado uma série de chaves-problematizante como diretriz inicial ao desenvolvimento da pesquisa onde a problematização encadeada resultaria em partes ou capítulos de uma possível tese como se segue: 

1ª Chave de questões 
Análise dos Arquivos Fotográficos 


 
Copiado de WikiLeaks Collateral Murder 35 e 36
1a ) Que tipo de fotografias foram publicadas no site WikiLeaks?
1b) Este material pode ser considerado como arquivos fotográficos?
1c) Que características demonstram que estas fotografias podem ser identificadas como arquivos?
1d) Quais são os elementos destas fotografias e sua confiabiliddae?
1e) Que análises podem ser feitas destas fotografias?
1f) Qual narrativa imagética pode ser compreendida a partir destas fotografias?
2ª Chave de questões 
Gênese Documental e Contextos Envolventes 

Copiado de Anderson D'Ávila
2a) Qual a gênese documental destas fotografias?
2b) Qual o contexto da gênese documental de produção das fotografias Still e do evento que as fotografias retratam (guerra americana contra Iraque e sua ocupação)?
2c) Quais informações, como evidência, estão contidas nestas fotografias, tanto do ponto de vista dos documentos de arquivo, como dos materiais imagéticos?
2d) Como as evidências imagéticas se articulam em relação aos crimes de guerra?
2e) Qual o contexto de publicação dos arquivos fotográficos no site WikiLeaks?
2f) Qual o contexto de surgimento e proposta de publicação do próprio site WikiLeaks enquanto meio público de TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação? 
3ª Chave de questões
Classificação Arquivística, Graus de Sigilo e domínios sobre a Verdade 
Copiado de Green Left
3a) A partir do estatuto probatórios do arquivo, o que podem provar estes arquivos fotográficos (e informações enquanto evidências) no que tange aos crimes de guerra cometidos pelo Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque?
3b) A informação, como evidência materializada pelos arquivos fotográficos, poderia atender a demandas de juristas e pesquisadores por verdades jurídicas e também sócio-históricas sobre o episódio de crime de guerra fotografado?
3c) Quais parâmetros foram adotados na Classificação Arquivística destas imagens quanto a natureza das informações e grau de sigilo?
3d)Qual vínculo causal fundamentaria a classificação destas fotografias como Top Secret/SCI level?
3e) Quais teorias poderiam elucidar a classificação arquivística quanto ao grau de sigilo?
3f) Quais seriam as consequências penais para o governo estadunidense caso o vazamento de fotografias que retratam seus crimes de guerra forem levados ao poder judiciário nacional e internacional? 
4ª Chave de questões
Direitos Humanos versus Segredos de Estados: conflitos de interesse entre os cidadãos e o governo 
Copiado de Okay Geek
Copiado de Law Inter Alia
4a) Que consequências e penalidades estão sendo imputadas ao informante da Inteligência Americana por ter colaborado com o site WikiLeaks com imagens dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos?
4b) Quais são os interesses conflitantes entre a classificação arquivística entre "público e o secreto"?
4c) Quais são os interesses conflitantes entre o público e o secreto no caso retratado pelas fotografias em questão?
4d) Qual o choque entre legislações nacionais/mundiais sobre livre acesso a informação como garantia a cidadania e a opacidade do Estado em relação as fotografias publicadas pela WikiLeaks?
Copiado de Stories & News   Copiado de O portal do Infinito   
4e) Quais incompatibilidades entre o discurso atual de "Governaibilade Democrática e Transparência Administrativa" com a manuteção do sigilo aos documentos e as punições e perseguições aos componentes e colaboradores do site WikiLeaks?
4f) Seria um crime ou mérito expor, revelar e denunciar publicamente crimes de guerra através de imagens atendendo interesse comum entre cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?

5ª Chave de questões
Conclusões sobre o direto a cidadania e sua relação com os valores probatórios e informativos de arquivos fotográficos
Copiado de Urban Love dec.18.2010
5a) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe crimes de guerra por interesse público?
5b) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe informações públicas de interesse comum entre outros cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?
5c) Quais são os mecanismos legais para proteger toda pesquisa que resultar em publicação de material classificado de interesse da cidadania e liberdade de informação e expressão?
5d) Seria um crime proibir ou perseguir publicações como WikiLeaks?
5e) Qual o valor probatório e o valor informativo das fotografias em pauta no site WikiLeaks para Tribunais e Sociedades Civis?
5f) Qual conclusões é possível chegar sobre a exposições de provas imagéticas de crimes de guerra e sua da reação opressiva por parte dos estados em relação a liberdade de informação, aos direitos humanos e a cidadania?

9 comentários:

  1. O texto instiga uma série de questões que, obviamente, são muito mais amplas do que um trabalho de doutoramento em Ciência da Informação (para algumas delas a resposta seria apenas retórica e para outras a resposta não caberia em um trabalho acadêmico), mas que servem como exercício de reflexão. Um excelente começo para uma pergunta de partida (ver explicação aqui).

    Vendo imagens da passeata pró-Assange, feita em Melbourne, eu acrescentaria mais uma ordem de questões, relativas à divulgação e consolidação de novas imagens-símbolos. Será que estamos assistindo a um nascimento de uma nova "família de imagens", como postula Panofsky, com o anti-herói "M", presente em várias máscaras da manifestação (ver exemplo aqui).

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  2. Correção ao comment anterior, após levar uma bronca do filho de 14 anos: o nome da personagem é "V", de vingança e não "M".

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  3. O fenômeno Wikileaks inaugurou em 2006 a nova ordem da anarquia, e esta não se limita a atos de arruaça e insubordinação, podemos falar de Anarquia da Informação? Há quem diga que o Assange é como um Coringa vivo, outros acham que compará-lo dessa forma é sugerir que ele só haja pra ver o caos. Talvez se aproxime mais do V mesmo. Estranho falarmos de pessoas surgindo como heróis de HQ. (Anti-heróis nos casos). Afinal se existem vilões de verdade, porque não haver heróis?

    Enfim... Não é isso que vem ao caso..

    Já me fiz alguma dessas perguntas sobre os arquivos "da" Wikileaks em geral. Ora, trata-se da AQUISIÇÃO de documentos - isso é bem atípico aos arquivos: (aquele velho discurso da naturalidade dos documentos). Entretanto, estes documentos acumulados passam a ser registro das atividades da Wikileaks sendo que o simples fato de tê-los em seu poder se tornam o registro máximo da boa execução de sua atividade fim: Manter os Governos Transparentes. (Ou não?)

    De qualquer forma, o termo aquisição é um tanto quanto intruso no arquivolomês. Ele é presente em diversas concepções de Ciclo Documental com seu devido asterisco sobre a maneira como entendê-lo nos arquivos (Produção/Criação).

    Essa confusão já é grande quando falamos dos convencionais documentos textuais, as fotografias então trazem diversas outras questões que o prof André levantou. Como não existe espécie na fotografia, não há uma pré-configuração onde a informação se organize para trazer outras informações a respeito da proveniência, do tempo, do produtor etc. Que são visivelmente mais fáceis de notar em memorandos, relatórios, atas... Isso permite um caráter bem típico de documentos fotográficos, a capacidade de reutilização para outros fins alheios aqueles da sua criação.

    Se assim for, podemos pensar em muitos problemas advindos do uso das fotografias pela Wikileaks:

    - Para que a fotografia acumulada pela Wikileaks seja vista como um documento de arquivo da Wikileaks (dessa vez sem aspas), esta tem que ser necessariamente compreendida como um novo documento por ter função adversa ao da sua criação? (Ao meu ver - empírico - sim).

    - Sendo isso verdade, este documento teria uma nova autenticidade e veracidade podendo comprovar tão somente a atividade de divulgação da Wikileaks?

    - Se isso for verdade também, o incômodo dos serviços de inteligência contradizem esta hipótese. Pois demonstram através deste incômodo que a informação transmitida pela Wikileaks trata-se das atividades sujas dos Governos X ou Y. Se eles simplesmente ignorassem, não poderíamos também simplesmente compreender que as informações transmitidas pela Wikileaks através das imagens se tratam de descontextualização?

    - Pode os documentos acumulados por uma instituição, mesmo tendo sido produzido por outra (no sentido de autoria) refletir as atividades desta e daquela?

    Parece que a Wikileaks é um fenômeno sem precedentes que não vai mudar somente a nossa concepção sobre os governos...


    Ah prof.. quem sabe pondo alguns limites na pesquisa num dê pra fazer um trabalho de doutorado... mestrado.. sei lá! *.*

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  4. Publico comment de Laila di Pietro que, por problemas técnicos não foi ao ar.

    Conforme discutimos em sala (disciplina Acervos Fotográficos), vou tentar expor as minhas conclusões sobre as questões levantadas.

    Quando o Pedro fala de AQUISIÇÃO eu imagino que já responda algumas de suas dúvidas. Se a imagem (documento de arquivo de alguma instituição) é adquirido por outra instituição e apresenta uma relação administrativa com essa "nova" instituição, ele entraria em seu arquivo, como é o caso de diversas fotografias do CEDOC/UnB.

    Nesses casos, observamos que as fotografias doadas por ex-alunos, por exemplo, contribuem para a construção de coleções que retratam o início da UnB, construções e reformas de prédio, ou seja, podem ser vinculadas a atividades administrativas da Universidade.

    No caso da Wikileaks, mesmo quando adquiridas, as imagens não têm relação nenhuma com a própria Wikileaks. Vão, sim, fazer parte de docuementos criados para a divulgação de notícias. Portanto, para a Wikileaks, a fotografia utilizada no site, por si, não assume função de documento de arquivo PARA ESSA INSTITUIÇÃO. Eu consideraria esse acervo como INSUMO, pois alimentaria o site para suas atividades.

    O que, nesse caso, seria considerado o documento de arquivo da Wikileaks seria, portanto, o site, a página da web que teria a interface da Wikileaks e fotografias, fotografias e texto, ou o que fosse necessário para expor a notícia desejada.


    Laila Di Pietro

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  5. O comentário abaixo, depois do "apagão" do blogger, não foi recomposto, razão pela qual o reproduzo adiante, a partir de cópia automática recebida no meu e-mail.


    Conforme discutimos em sala (disciplina Acervos Fotográficos), vou tentar expor as minhas conclusões sobre as questões levantadas.

    Quando o Pedro fala de AQUISIÇÃO eu imagino que já responda algumas de suas dúvidas. Se a imagem (documento de arquivo de alguma instituição) é adquirido por outra instituição e apresenta uma relação administrativa com essa "nova" instituição, ele entraria em seu arquivo, como é o caso de diversas fotografias do CEDOC/UnB.

    Nesses casos, observamos que as fotografias doadas por ex-alunos, por exemplo, contribuem para a construção de coleções que retratam o início da UnB, construções e reformas de prédio, ou seja, podem ser vinculadas a atividades administrativas da Universidade.

    No caso da Wikileaks, mesmo quando adquiridas, as imagens não têm relação nenhuma com a própria Wikileaks. Vão, sim, fazer parte de docuementos criados para a divulgação de notícias. Portanto, para a Wikileaks, a fotografia utilizada no site, por si, não assume função de documento de arquivo PARA ESSA INSTITUIÇÃO. Eu consideraria esse acervo como INSUMO, pois alimentaria o site para suas atividades.

    O que, nesse caso, seria considerado o documento de arquivo da Wikileaks seria, portanto, o site, a página da web que teria a interface da Wikileaks e fotografias, fotografias e texto, ou o que fosse necessário para expor a notícia desejada.

    Postado por Laila Di Pietro no blog DIGIFOTOWEB repositório digital de materiais fotográficos de arquivo, em 11 de maio de 2011 13:09

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  6. Me diverti bastante com a menção ao "M"
    ; )
    A confusão foi ainda mais engraçada quando lembrei do Vampiro "M"(de Düsseldorf),

    A identificação que o profºAndré faz com o "V" é perfeitamente
    compreensível, pois do meu ponto de vista o símbolo-arquetípico revolucionário-prometéico está
    evidente em Wikileaks.

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  7. Prof. André considera a fotografia usada no site como insumo. Ora, mas o que é o arquivo senão insumo? Para que serve ele senão para alimentar as atividades de seus produtores/acumuladores/receptores... ? Podemos dizer que: os arquivos fotográficos estão para este site, assim como os arquivos audiovisuais estão para um programa de TV.

    Aquisição em arquivo não é estranho, vide os estudos da professora Ana Maria Camargo sobre arquivos municipais que complementam seus acervos quando é de interesse dos mesmos, a mestra inclusive fala do Princípio de Territorialidade na teoria arquivística para este caso específico.

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  8. Insumo, como desdobramento. O arquivo antes de tudo é resultado de ação administrativa e prova da execução da mesma. Ver, por exemplo, a dissertação de Rosa Maria Vasconcelos (link aqui), que mostra como as gravações da TV Senado cumprem bem essa dupla função de arquivo e insumo.

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  9. Arquivo como insumo por ser desdobramento do resultado de ação administrativa e prova da execução da mesma. Perfeito! O diálogo aqui se torna material para uma verdadeira aula! Muito Obrigado André!!!!

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