terça-feira, 18 de setembro de 2012

Bem na Foto

Em entrevista à Revista de História, o fotógrafo e pesquisador Pedro Karp Vasquez fala sobre a chegada da fotografia no Brasil, no século XIX, e sobre o mercado editorial a respeito do tema


D. Pedro II foi o primeiro brasileiro a comprar um daguerreótipo, o precursor da máquina fotográfica, em 1840. Ele incentivou o trabalho de fotógrafos e reuniu uma coleção de 25 mil imagens, hoje pertencentes à Biblioteca Nacional. É, em grande parte, graças ao imperador, que hoje o Brasil tem um dos principais acervos de fotografias antigas da América Latina e se destaca na produção de livros na área. Um dos últimos lançamentos de 2012 é Fotografia Escrita - nove ensaios sobre a produção fotográfica no Brasil (Senac), escrito pelo fotógrafo e pesquisador Pedro Karp Vasquez, um dos responsáveis pela criação do Instituto Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte, em 1982. Em entrevista à Revista de História, Vasquez, que também é autor do livro D. Pedro II e a Fotografia no Brasil (Index, 1985), fala sobre a chegada e popularização da fotografia no Brasil.
Revista de História: Por que a produção de fotografias no Brasil foi tão forte no século XIX?
Pedro Karp Vasquez: O acervo brasileiro desse período é o mais importante da América Latina, em grande parte por incentivo de D. Pedro II (1825-1891). Naquela época, os únicos colecionadores particulares no mundo eram ele, a rainha Vitória (1819-1901) e o Príncipe Albert (1819-1861), do Reino Unido. Mas no Brasil, naquela época, não havia um mercado para retrato como em Viena, Londres ou Paris, já que o regime aqui era escravocrata e a burguesia emergente era muito pequena. Sem o imperador a fotografia não teria se desenvolvido tanto. Ele atuava como mecenas e chamava atenção para a fotografia, chegando até a criar o título de Fotógrafo da Casa Imperial.
RH: E como era a relação da academia com a fotografia no século XIX?
PKV: As exposições anuais da Academia de Belas Artes acolheram a fotografia desde a década de 1840. Na mesma época, na Europa e nos Estados Unidos, esse ambiente acadêmico ainda não aceitava a fotografia. Nós tivemos esse lado precursor. Também houve três Exposições Nacionais do período imperial, por volta de 1860, que incluíram a fotografia em várias categorias, como anúncios de produtos e retratos de paisagens, por exemplo.
RH: Qual é o tamanho do acervo brasileiro no período?
PKV: Não temos um levantamento nacional, mas acredito que deva estar entre 300 mil e meio milhão de imagens. Só D. Pedro II levou para a Biblioteca Nacional uma coleção com mais de 25 mil imagens. Gilberto Ferrez, neto do fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), constituiu outra coleção enorme, com cerca de 30 mil fotos, que estão hoje no Instituto Moreira Salles. Fora isso tem outras fotos na Biblioteca Nacional, no Museu Histórico Nacional, no Arquivo Nacional, no Museu Imperial, no Museu Paulista... É muita coisa.
RH: Quando a produção fotográfica começou a ser estudada no Brasil?
PKV: O primeiro livro sobre o tema foiA fotografia no Brasil, de Gilberto Ferrez, lançado em 1953. Na década de 1970 Ferrez fez outros livros, sobre o avô dele, sobre fotografia em Pernambuco, na Bahia... E surgiu também Boris Kossoy (saiba mais em “Nova pátria, novo olhar”). São precursores isolados. A coisa começou a deslanchar mesmo em meados da década de 1980... Talvez porque tenha surgido a Lei Sarney, que depois virou Lei Rouanet, permitindo que esses livros fossem financiados por empresas. Alguns eram muito caros para serem produzidos por uma editora normal.
RH: E dos anos 1990 até hoje, como está o mercado editorial?
PKV: Nos anos 1990 até os próprios fotógrafos, independentes, começaram a fazer livros mais sofisticados. Passamos a ter um movimento constante de edição de livros, tanto de ensaios históricos, quanto de livros autorais. Hoje, acho que a parte teórica ainda é carente, mesmo em traduções. Entre os livros de referência, só temos algo de Roland Barthes e Susan Sontag. De qualquer forma, acho que atingimos um ponto de maturidade e estamos cada vez melhor.
RH: Onde seu livro se encaixa na produção atual?
PKV: A importância dele é que é feito para o grande público. Não é uma tese, não é um trabalho de professor universitário. Normalmente, esse tipo de publicação é uma tese... Ou uma versão simplificada da tese, o que já melhora, porque a pessoa tira a parte mais árida de justificativas. Mas Fotografia Escrita é o livro de uma pessoa que sempre se preocupou em fazer uma difusão ampla da fotografia para a sociedade em geral.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fotografias saqueadas: breve história sobre as fotografias resgatadas da ditadura argentina

Fonte: Instituto Espacio para La Memória
As fotos acima retratam três cidadãos argentinos que foram capturados e torturados durante o último período de ditadura no país, autodenominado Proceso de Reorganización Nacional e mantidos presos na chamada ESMA, antiga Escuela de Mecánica de la Armada, que funcionou como centro de detenção clandestino nesse período e por onde passaram quase 5.000 detidos e desaparecidos (90% foram assassinados). Tais fotografias foram “salvas” por um fotógrafo, também preso e torturado durante mais de quatro anos, Victor Basterra.
Basterra foi sequestrado em 1979 junto com sua esposa e filha recém-nascida e permaneceu na ESMA até dezembro de 1983 e vigiado até agosto de 1984. Durante esse período, foi designado a fotógrafo dentro do centro clandestino e passou a sacar fotografias dos militares para produzir documentos falsos para ações ilegais das Forças Armadas.

“Te equivocaste, Marcelo”, dijo Basterra, “yo no saqué las fotos”. “Pusiste en el libro que yo las había sacado, y en realidad las sacaron ellos. Yo sacaba las fotos de los milicos, para hacerle los documentos, pera las de los compañeros las sacaban ellos, tenían un fotógrafo que hacia eso”.
“Yo no apreté el botón”, aclara. “Pero un día, trabajando en el laboratorio vi que tenían una pila de fotos para quemar, era ya el 83, viste, ya se venían los cambios. Y entre ellos vi mi retrato, mi propia foto cuando me acababan de chupar, la que sacaran el mismo día en que nos fotografiaran a todos contra la misma pared. Entonces metí la mano en la pila, y me guardé los negativos que pude agarrar, los escondí entre la panza y el pantalón, ahí los puses, cerca de los huevos”.
“A esa altura parecía que habían decidido perdonarme la vida, que había sido un buen muchacho y merecía seguir viviendo, vigilado pero, en fin, inofensivo. No podían pensar que en cuanto pude saqué las fotos de la ESMA de a poquito, en las salidas, entonces si metidas bien en la zona de abajo, entre los huevos y el culo. No me revisaban casi, pero si llegaban a encontrar una de esas fotos, era boleta”.
(Marcelo Brosdky e Victor Basterra –
Memória en construcción: el debate sobre la ESMA)

Capa do livro organizado por Marcelo Brodsky
No diálogo acima, copiado do livro organizado por Marcelo Brodsky, que perdeu seu irmão durante o período de terrorismo, também preso e assassinado na ESMA, Victor Basterra explica que não apertou o botão da câmera para tirar as fotografias, e que “apenas” as tirou de uma pilha que iria queimar-se e levar consigo uma parte muito importante da história da ditadura na Argentina. Para salva as fotografias, Basterra as guardou e levou aos poucos escondidas em suas roupas para fora do centro, quando já tinha permissão para voltar à sua casa após cumprir suas tarefas.
As fotografias foram escondidas por Basterra até o fim do período e reveladas durante o Juicio a las Juntas, processo judicial organizado em 1985 pelo presidente Alfonsín (1983-1989), que reuniu provas contra os organismos e pessoas responsáveis pelo ocorrido durante a ditadura.


Na mesma introdução do livro, Marcelo Brodsky complementa:
Me equivoqué, es cierto, Victor. No aprestaste el gatillo. Pero sacaste las fotos, y lo hiciste dos veces. Y la dos te fue la vida en ello. Las sacaste de la pila, las salvaste de la hoguera, las quitaste del olvido.
Y después la sacaste de nuevo. Las pusiste ahí abajo, muchos huevos, la verdad, y las llevaste afuera, ¿al mundo real?. Las escondiste adentro e las sacaste afuera. Claro que las sacaste, Victor. Las sacaste dos veces aun que no hayas apretado el gatillo.

Victor Basterra

Compreendemos com a fala de Brodsky que, apesar de Basterra não ter apertado o gatilho para tirar as fotos, foi autor das mesmas por duas vezes: quando as salvou da fogueira e quando conseguiu tirá-las da ESMA.

Ao conhecer um pouco mais sobre a ditadura na Argentina e a história de Victor Basterra e “suas” fotografias, me pareceu interessante apresentá-la e questionar alguns pontos como, por exemplo, por que as fotos seriam eliminadas na ESMA, quem é efetivamente o autor dos documentos fotográficos e onde e como as fotografias originais deveriam ser armazenadas e organizadas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pegadas de luz


O Instituto Mora da Cidade do México está disponibilizando o site do projeto "Huellas de Luz", em uma processo ainda em construção, com vistas, não apena à difusão de acervos e da pesquisa, mas também para receber comentários, críticas e sugestões. Trata-se de um repositório de fotografias que buscou mesclar na organização elementos relacionados à história social (quanto a escolha das coleções e sua descrição temática) e à arquivologia (na classificação hierarquizada e na descrição inspirada pela ISAD-g). O projeto é um desdobramento de projeto anterior, "Fototeca Digital", que visa consolidar o acesso via Web em um único ambiente virtual.
  • Aceda ao site "Huellas de Luz", clicando aqui e opine neste blog.
  • Veja ainda post anterior sobre a Fototeca Digital neste blog

terça-feira, 17 de julho de 2012

BLOG SALAS DE CINEMA DO ES É NOTÍCIA


O blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/ foi matéria do Jornal A Gazeta e já renderam contribuições de imagens e depoimentos. Até o momento já foram 760 acessos e 7 países (Alemanha, EUA, Portugal, Angola, India, Rússia e Argentina).
Além disso, o projeto de pesquisa foi contemplado pelo edital 32/2012 do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo – FUNCULTURA, referente a Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Inventário, Conservação e Reprodução de Acervos no Estado do Espírito Santo, isso será muito importante no tratamento da informação e a ampliação das fontes disponíveis no acervo que será depositado após o tratamento no Arquivo Público Estadual do ES e disponibilizado pela Internet.

A proposta é organizar um inventário analítico do acervo que é 100% digital e compreende fotografias, entrevistas registradas em audiovisual, notícias de jornais e revistas, além de documentos de arquivos público e privados. O objetivo é que o arquivo custodiado no APEES e disponibilizado pelo Blog possibilite ampliarmos o acervo e encontrarmos mais registros das 200 salas (aproximadamente) de exibição cinematográfica que funcionaram no estado do ES.

Esse projeto de pesquisa é um trabalho do Doutorado Interinstitucional Unb-UFES, na linha de pesquisa Organização da Informação, Grupo Acervos Fotográficos e conta com a orientação do Prof. André Porto Ancona Lopez.

sábado, 7 de julho de 2012

Blog Salas de Cinema Capixaba


Boa tarde,

Quem conheceu ou quer conhecer as salas de cinema que formaram a cinelândia capixaba podem visitar o blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/.

Todos ainda tem a oportunidade de colaborarem com novas fontes, comentários e na identificação das imagens e bibliografia.

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Um grande abraço.

André Malverdes