A imagem acima provavelmente passou desapercebida do espectador brasileiro, porém, certamente, foi muito bem notada pelos espanhóis, principalmente pelos catalães. A bandeira da Catalunya e a taça, empunhadas pelo jogador Puyol têm um efeito simbólico muito grande no complexo cenário dos imaginários nacionais da Espanha. A imagem, como informação, pode ser portadora de uma carga simbólica muito forte. Tais imagens-símbolos costumam ser reproduzidas em inúmeros documentos na tentativa de afirmação dos ideais nelas identificados.
É importante que ao lidar com documentos imagéticos sejamos capazes de diferenciar as imagens (informação) dos documentos que as contém. Na reprodução acima temos várias imagens, mais abstratas, ou menos, porém nenhuma concreta e, de algum modo conflitantes: a vitória (representada pela taça), a Catalunya (representada por sua bandeira), a Espanha (representada por seu jogador) etc. Para tantas imagens (que valem mais do que 1.000 palavras) temos apenas um documento: este post, fruto de meu interesse acadêmico. Um documento com texto e imagem articuladas.
A imagem, como informação independente de um documento pode ter múltiplos desdobramentos e influências. Podem ser mentais, podem impulsionar "imaginários" políticos e podem ser incorporadas a suportes, constituindo documentos para que tenham maior funcionalidade. A imagem de Puyol com a copa e a bandeira catalã provavelmente será transposta para posteres, camisetas, blogs etc. Longe dos debates, ao menos para mim fica a satisfação de ver que o melhor futebol triunfou.
Mesmo antes da decisão (e antes da comemoração de Puyol) alguns jornais brasileiros já apontavam a tensa relação Espanha-Catalunya no plano simbólico da copa do mundo, com alguns desdobramentos nada simbólicos (veja aqui reportagem do Correio Braziliense). Algumas imagens desempenharam papel crucial no estabelecimento, manutenção ou desarticulação de ordens políticas e sociais, como nos mostra o livro de Tomás Pérez Vejo sobre as guerras de independência ocorridas na América espanhola. Será que a forte imagem do jogador catalão terá maiores desdobramentos, no plano simbólico, no acirrado e histórico embate do nacionalismo espanhol?
Joan Boadas i Raset:
ResponderExcluirBuen anàlisis.
Un abrazo!
Joan
Recebido por e-mail às 6h352min de hoje.
Fernando Franca:
ResponderExcluirProfessor André, logo que vi a imagem do Puyol com a taça da copa e a bandeira da Catalunya nas mãos pensei: o cara não "deu mole", já mostrou pro mundo inteiro que sua região autônoma foi campeã. Como você disse, as tensões entre Catalunya e Espanha, e até outras regiões autônomas por independência, são antigas. Na minha opinião, Puyol quis mostrar que sem a Catalunya a Espanha não seria campeã. É fora de dúvida que a "Fúria" sem Iniesta, Xavi, Busquets, Puyol, Cesc Fábregas, Pedro (todos da Catalunya) e Llorente (do País Basco) seria bem menos forte.
Recebido no GoogleBuzz às 8h31min de hoje.
iniesta e pedro não são catalaes---
ResponderExcluirE muitos outros da equipe. A nota apenas mostrou como o sentimento de nacionalidade catalã foi reafirmado pelos jogadores que comungam daquela comunidade imaginada (cf. B. Anderson), como, no caso da foto, Pujol.
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