A gigante petrolífera britânica, responsável pelo maior desastre ambiental, provocado pelo Homem, já registrado nos EUA (a matança de índios e bisontes, e a desertificação do Meio-Oeste não foram registrados como desastres) tentou, através das imagens, reverter um pouco do desgaste que vem sofrendo junto à opinião pública. Divulgou documento fotográfico que, supostamente, representaria três de seus engenheiros monitorando o vazamento do poço de petróleo em dez super telas.
O poder das imagens é bastante curioso nesse caso. Em primeiro lugar tenta-se passar a ideia de que as imagens exibidas nas telas e o acompanhamento delas por 3 pessoas não identificadas demonstrariam efetivos esforços para a contenção do vazamento de óleo. De algum modo isso remete à tradição das imagens da igreja católica, na qual os esforços de profunda concentração espiritual defronte à estátuas e pinturas sagradas permitiriam que tais objetos representacionais intercedessem junto ao representado para que Este realizasse à vontade do fiel. De modo análogo as pessoas defronte às telas acompanham atentamente o desenrolar da tragédia ambiental "torcendo" incansavelmente para que ela cesse. Se a crise se agrava no mundo profano a Igreja tenta providenciar mais imagens santas. Se o vazamento de óleo não é estancado a BP, por meio dos recursos do photoshop, providencia mais monitores com imagens para aumentar a sacralidade de seus esforços.
A condição mística de certas imagens dependem de sua certificação. Assim, uma imagem de caráter religioso esculpida por um artesão popular desconhecido e vendida em uma feira turística terá menos efeito místico do que uma feita por algum artista já validado pela igreja e reconhecido como tal. Um pôster estático valerá menos do que uma imagem em movimento e esta, se for em tempo real, terá sua eficiência redobrada. A tentativa da BP de aumentar o número de telas em operação não garante que:
- as pessoas na sala estivessem olhando para os monitores ou, de algum modo utilizando aquelas informações;
- fossem imagens relacionadas ao vazamento do poço de petróleo;
- os dados tivessem alguma utilidade;
- representassem dados em tempo real.
Mesmo assim, a BP acreditou no poder de convencimento que tais imagens poderiam ter e pôs, toscamente, o photoshop em ação em uma arriscada (e desesperada) jogada de marketing. Confiou, cegamente, no poder que as imagens exercem sobre as pessoas. A BP errou ao não considerar que hoje, a despeito, do enorme poder que as imagens têm nos imaginários atuais, elas perderam a sacralidade e, como objetos profanos foram imediatamente dissecadas por infiéis que gritaram em uníssono:
- O rei está nu!
Uma boa reportagem, com interessantes demonstrações da falsificação da BP pode ser vista clicando aqui.
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