domingo, 29 de maio de 2011

Documentos fotográficos nos arquivos

Copiado de Stupid n Funny Tshirts Gifts

Os conjuntos documentais acumulados nos arquivos em decorrência de funções e atividades de entes físicos e jurídicos se caracterizam por possuírem uma grande variedade de suportes (papel, filme, fita magnética, disco ótico, fotografia). A separação dos documentos em “arquivos especiais” tem sido uma prática estabelecida quase que espontaneamente no trato dos registros em suporte diferente do papel e muito utilizado em arquivos fotográficos. São considerados especiais por necessitarem de condições diferenciadas de acondicionamento e conservação. Parece que tal procedimento, que visava inicialmente preservar os suportes das informações, levou ao uso de metodologias emprestadas de áreas como a biblioteconomia e a análise documentária para a classificação, organização e recuperação dos conteúdos registrados sem se levar em consideração o motivo para os quais aqueles documentos foram produzidos pela instituição ou pessoa. Significa dizer que se guarda como arquivo aquilo que é  tratado como biblioteca (coleção) o acervo fotográfico acumulado, que também pode ter sido incorporado por doação, compra ou permuta.

O desenvolvimento da Arquivologia enquanto disciplina dispõe do princípio da proveniência ou de respeito aos fundos como norteador das ações sobre os arquivos, porém esta diretriz é ignorada a partir do momento que são utilizadas metodologias criadas para outros documentos, no caso, as descrições dos conteúdos das fotografias, perdendo-se assim o vínculo orgânico com o produtor do arquivo.

Entendo essas iniciativas como reflexo da falta de valorização dos documentos em suporte papel e uma hiper-valorização dos documentos fotográficos, compreendidos como fiéis reprodutores da realidade. Soma-se a isso a falta de políticas de gestão dos registros administrativos aliados a não observância de suas especificidades. 

Por Tania Maria de Moura Pereira - Arquivista
Diretora do Centro de Documentação (CEDOC)
Universidade de Brasília (UnB)

terça-feira, 24 de maio de 2011

A modernização da gestão de documentos imagéticos: o caso da Agência Nacional de Águas

Copiado de Lei & Ordem


Recebi um e-mail na semana passada com o seguinte assunto: Modernização do Arquivo. O e-mail tratava da aquisição de novos arquivos deslizantes para o Arquivo Central do órgão em que trabalho. Fiquei pensando o porquê de terem colocado no assunto o termo “modernização” e não apenas “aquisição/compra de deslizantes”. Talvez porque a palavra modernização nos remetesse a algo que é novo, seria o processo de modernizar, adaptar-se aos usos e costumes modernos. Soa bonito.

Pensando na modernização da gestão de documentos imagéticos, veio à mente um sistema informatizado que contemplasse, de acordo com o E-arq Brasil:

1. A Recuperação de imagens;
2. A Aplicação do plano de classificação;
3. O Controle sobre os prazos de guarda e destinação;
4. O Armazenamento seguro;
5. Procedimentos confiáveis e autênticos;
6. A Garantia de acesso e preservação de documentos imagéticos digitais e não digitais.

Busquei, para minha pesquisa, alguns órgãos públicos que tivessem sistemas informatizados e transmitissem esse ideal de “modernidade”, foi quando conheci a Agência Nacional de Águas (ANA).

Criada em 2000, a ANA vem sendo reconhecida como "CASE" em gestão documental, principalmente com relação ao Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos (SIGAD) em uso na agência.

A ANA trabalha com dois módulos de um mesmo SIGAD, um basicamente para documentos textuais/convencionais e outro para fotográficos, que é um banco de imagens composto pelo acervo fotográfico das atividades desenvolvidas na Agência desde a sua criação.

No site, disponível para o público externo, é possível visualizar algumas informações das fotografias. Para o público interno, os metadados são mais completos, constando classificação arquivística, local de arquivamento e outros.

O que me chamou atenção foi a divisão, em dois módulos, de uma mesma atividade: gestão arquivística informatizada.

Quando falamos em gestão informatizada de documentos imagéticos, um banco de imagem e um SIGAD podem ter características em comum, mas será que representariam a mesma coisa? A princípio, um banco de imagens poderia ser considerado um serviço onde é possível obter imagens ou fotografias para fins diversos: publicidade, trabalhos acadêmicos, jornalisticos e outros. Por outro lado, o e-arq define SIGAD como sendo "o conjunto de procedimentos e operações técnicas característico do sistema de gestão arquivística de documentos, processado por computador".

Para melhor ilustrar a discussão sobre o que deveria ou não constar em um SIGAD, usarei uma frase que ouvi hoje de um analista de TI no ECM ROAD SHOW: "deve ser inserido em um sistema informatizado qualquer coisa, em qualquer mídia, desde que seja útil".

terça-feira, 10 de maio de 2011

Imagem de Bin Laden morto

Rene Magritte - Le sens propre- IV
(copiado de Mark Young's  Series Magritte)
Osama Bin Laden está morto. É o que dizem. A despeito das inúmeras informações divulgadas na mídia, confirmadas pela Al Quaeda -- que seria a grande interessada em desmenti-la --, a dúvida ainda paira no ar, em função da não divulgação de uma foto do corpo de Osama Bin Laden.

Copiado de Geração de 60
Em 1967 a morte do maior ícone político produzido após a Segunda Guerra mundial foi fartamente documentada, em termos fotográficos. A qualidade de "prova do real" atribuída ao registro do fato foi decisiva para a ampla divulgação das imagens, feita com o fito de consumar na opinião pública a morte do guerrilheiro e, com isso (ao lado de um fortíssimo esquema de repressão), supostamente, desestimular a proliferação de seguidores. O convencimento operado pela exibição do troféu foi eficiente a ponto de, com a morte do herói, criar-se o mito, que tem como referencial imagético a célebre imagem de Korda, hoje vulgarizada até em produtos de moda e publicidade.
                         Copiado de Socialist Party                                      Copiado de G1

Copiado de Darryl Wolk
Em 2006 a invasão do Iraque, e a subsequente captura de Saddan Hussein, foi fartamente documentada pelos mass media. O problema da destinação a ser dada pela coalizão estadunidense ao ex-aliado (promovido a ditador) tornou-se uma questão mais sensível. Como eliminar o ilustre prisioneiro de guerra, de modo documentado, sem correr o risco de criar um novo mito (o que era o ponto mais sensível)? A solução encontrada foi a divulgação de uma "acidental" imagem feita por telefone celular, que serviu para "comprovar" a morte de Saddan, com caráter semi-oficial.

Hoje, novamente um inimigo dos Estados Unidos foi executado, porém os elementos comprobatórios dados à opinião pública são insuficientes para que a efetividade da ação seja unimanente reconhecida (tanto como efetiva, ou como legítima). O atributo da fotografia como "prova do real", mesmo em uma realidade abertamente reconhecida como photoshopável, continua presente. As demandas por uma imagem definitiva vêm de diferentes origens:
  • mórbidos de plantão, ávidos por sangue; 
  • ultranacionalistas de direita, sedentos por um troféu; 
  • o público mediodre de telenoticiários, incapaz de aceitar uma notícia sem ilustrações; 
  • analistas internacionais, vigilantes da conformidade dos procedimentos adotados pelos Seals;
  • seguidores de Bin Laden, a busca de uma imagem que possa ser fundadora de nova mitologia. 

Copiado de Revolutionary Program
A imagem oficial do acompanhamento da execução da Operação Tridente de Netuno pela alta cúpula do governo estadunidense não tem surtido o efeito exigido por uma fotografia conclusiva, a despeito de Hillary Clinton ter dito que foram os "38 minutos mais intensos" da vida dela (mesmo já tendo sido primeira dama por 8 anos).

O movimento de divulgação de imagens de inimigos do Estado Unidos mortos passou de uma política de ostensividade, nos anos 1960, para uma "acidental" discrição em 2006. Atualmente, a menos que alguma imagem da execução de Bin Laden "vaze", "sem querer", a postura tem sido a da censura, em uma atitude surreal, à Magritte:
Montagem de André Lopez

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Arquivos fotográficos no site WikiLeaks

Copiado do WikiLeaks Central
Taiguara Vilella 
(professor de arquivologia da UFES, mestre em 
História Social - USP, gnose888@gmail.com)

A partir de uma reunião realizada na Universidade Federal do Espírito Santo sobre a viabilização de um Doutorado Interinstitucional em Ciências da Informação com a Universidade de Brasília (UnB), se colocou a necessidade do mapeamento do perfil de pesquisa para os possíveis candidatos. A partir deste enfoque, o seguinte tema poderia ser desenvolvido com orientação do profº Drº André Porto Ancona Lopez - "Arquivos fotográficos no site WikiLeaks: estudo do vazamento de fotografias Still", a partir de material classificado como Top Secret/SCI level acerca dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque. No que tange ao Acervo Fotográfico publicado no site WikiLeaks, existem questões-problemas a serem respondidas sobre as fotografias Still de Bagdá/Iraque. Abaixo é apresentado uma série de chaves-problematizante como diretriz inicial ao desenvolvimento da pesquisa onde a problematização encadeada resultaria em partes ou capítulos de uma possível tese como se segue: 

1ª Chave de questões 
Análise dos Arquivos Fotográficos 


 
Copiado de WikiLeaks Collateral Murder 35 e 36
1a ) Que tipo de fotografias foram publicadas no site WikiLeaks?
1b) Este material pode ser considerado como arquivos fotográficos?
1c) Que características demonstram que estas fotografias podem ser identificadas como arquivos?
1d) Quais são os elementos destas fotografias e sua confiabiliddae?
1e) Que análises podem ser feitas destas fotografias?
1f) Qual narrativa imagética pode ser compreendida a partir destas fotografias?
2ª Chave de questões 
Gênese Documental e Contextos Envolventes 

Copiado de Anderson D'Ávila
2a) Qual a gênese documental destas fotografias?
2b) Qual o contexto da gênese documental de produção das fotografias Still e do evento que as fotografias retratam (guerra americana contra Iraque e sua ocupação)?
2c) Quais informações, como evidência, estão contidas nestas fotografias, tanto do ponto de vista dos documentos de arquivo, como dos materiais imagéticos?
2d) Como as evidências imagéticas se articulam em relação aos crimes de guerra?
2e) Qual o contexto de publicação dos arquivos fotográficos no site WikiLeaks?
2f) Qual o contexto de surgimento e proposta de publicação do próprio site WikiLeaks enquanto meio público de TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação? 
3ª Chave de questões
Classificação Arquivística, Graus de Sigilo e domínios sobre a Verdade 
Copiado de Green Left
3a) A partir do estatuto probatórios do arquivo, o que podem provar estes arquivos fotográficos (e informações enquanto evidências) no que tange aos crimes de guerra cometidos pelo Exército dos Estados Unidos na ocupação do Iraque?
3b) A informação, como evidência materializada pelos arquivos fotográficos, poderia atender a demandas de juristas e pesquisadores por verdades jurídicas e também sócio-históricas sobre o episódio de crime de guerra fotografado?
3c) Quais parâmetros foram adotados na Classificação Arquivística destas imagens quanto a natureza das informações e grau de sigilo?
3d)Qual vínculo causal fundamentaria a classificação destas fotografias como Top Secret/SCI level?
3e) Quais teorias poderiam elucidar a classificação arquivística quanto ao grau de sigilo?
3f) Quais seriam as consequências penais para o governo estadunidense caso o vazamento de fotografias que retratam seus crimes de guerra forem levados ao poder judiciário nacional e internacional? 
4ª Chave de questões
Direitos Humanos versus Segredos de Estados: conflitos de interesse entre os cidadãos e o governo 
Copiado de Okay Geek
Copiado de Law Inter Alia
4a) Que consequências e penalidades estão sendo imputadas ao informante da Inteligência Americana por ter colaborado com o site WikiLeaks com imagens dos crimes de guerra do Exército dos Estados Unidos?
4b) Quais são os interesses conflitantes entre a classificação arquivística entre "público e o secreto"?
4c) Quais são os interesses conflitantes entre o público e o secreto no caso retratado pelas fotografias em questão?
4d) Qual o choque entre legislações nacionais/mundiais sobre livre acesso a informação como garantia a cidadania e a opacidade do Estado em relação as fotografias publicadas pela WikiLeaks?
Copiado de Stories & News   Copiado de O portal do Infinito   
4e) Quais incompatibilidades entre o discurso atual de "Governaibilade Democrática e Transparência Administrativa" com a manuteção do sigilo aos documentos e as punições e perseguições aos componentes e colaboradores do site WikiLeaks?
4f) Seria um crime ou mérito expor, revelar e denunciar publicamente crimes de guerra através de imagens atendendo interesse comum entre cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?

5ª Chave de questões
Conclusões sobre o direto a cidadania e sua relação com os valores probatórios e informativos de arquivos fotográficos
Copiado de Urban Love dec.18.2010
5a) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe crimes de guerra por interesse público?
5b) Seria um crime perseguir, prender e vilipendiar cidadãos que expõe informações públicas de interesse comum entre outros cidadãos e órgãos de manutenção dos Direitos Humanos?
5c) Quais são os mecanismos legais para proteger toda pesquisa que resultar em publicação de material classificado de interesse da cidadania e liberdade de informação e expressão?
5d) Seria um crime proibir ou perseguir publicações como WikiLeaks?
5e) Qual o valor probatório e o valor informativo das fotografias em pauta no site WikiLeaks para Tribunais e Sociedades Civis?
5f) Qual conclusões é possível chegar sobre a exposições de provas imagéticas de crimes de guerra e sua da reação opressiva por parte dos estados em relação a liberdade de informação, aos direitos humanos e a cidadania?