sábado, 25 de junho de 2011

Os Arquivos Imagéticos: A percepção e a descrição, sob a influência do olhar ou do que você é...

A influência do olhar... Será que o que descrevemos realmente é o que vemos? Se tratarmos essa pergunta sob o olhar de alguns pensadores da arte e principalmente sobre o registro imagético poderemos ter um entendimento desta complexidade. No entanto, essa questão já era tratada na visão da arte em si,  vamos perceber que essa complexidade não é de agora. Assim, iremos buscar um pouco do entendimento na visão de Panofsky (2009)  e Grombrich (2008) os dois trazem uma luz nestas questões tanto no campo da arte quanto da cognição, no entanto, quando nos referimos a cognição, estamos falando da bagagem (conhecimento e experiências acumuladas) que cada um de nos trazemos a tona ao fazer uma descrição do que vemos (interpretação da coisa que nos apresenta, podendo ser uma obra de arte, fotografia ou um objeto qualquer). Na fotografia, diz-se que é possível captar todo o que está sob o ângulo da lente, no entanto, esta captação está sob a influência de quem aponta a lente, quais as intenções estão por traz da intenção de apontar a lente, porém ao observar isso do ponto de vista do artista, temos a influência de quem está fazendo a representação e de quem a encomendou, isso não difere do caso da fotografia que esteja num contexto institucional e administrativo, pois a captação e a representação destes dois contextos vão sofrer a influência do ambiente (aqui, denominado de as condições em que se aponta uma lente ou de quando se está sendo pintada uma obra), a exemplo, temos um garoto sendo pintado ou desenhado por um grupo, será igual a representação em todos os desenhos? De acordo com Panosfsky (2009) uma coisa é certa: Quanto mais a proporção de ênfase na idéia e forma se aproxima de um estado de equilíbrio, mais a obra revelará o que chama “conteúdo”, ou cada vez mais se adaptará a intenção original das obras.
Fonte: Imagem cedida pelo CEDOC-UNB
Gombrich (2008) diz que quando estamos falando de arte, temos de descobrir as prováveis intenções (inúmeras causas), finalidade da obra de arte no ambiente em que foi criada, compreender seus métodos de desenho para compreender seus sentimentos. Preocupação com o uso dos valores culturais de cada épocareconstrução de um pedaço de evidência perdida – significado naquele contexto particular. No caso da fotografia ao lado, a reprodução do garoto sob o papel seria uma obra de arte? Qual a intenção e finalidade de se representar o garoto no papel? Se conhecermos os motivos e as finalidades e as causas, estaremos nos aproximando das intenções e assim da sua descrição, no entanto isso não nos garante a fidedignidade do que realmente é.  Ou seja, um mesmo objeto de observação retratado por um grupo poderá não ser igual em todos os detalhes, na sua descrição da mesma forma se for de um contexto administrativo sem referência, isso nos levará a fazer qualquer descrição ou reutilização da imagem para outro contexto. Panofsky (2009) e Gombrich (2008) concordam de que isso, “vai depender da percepção ambiental e da bagagem que cada um destes elementos – sujeito “o observador” e o objeto “observado” - carregam consigo. Outro exemplo, são as fotos abaixo, onde temos uma pessoa vendo uma determinada área e fazendo um esboço  do objeto observado, no entanto, quando visto por outros, estes questionam essa visão do que está descrito ou desenhado. Ou seja, há uma visão nítida de o que um vê não é igual ao o que os outros vêem. O nível de detalhamento e a forma de como isso é retratado vai depender de cada sujeito que está no papel de observador. 
Fonte: Imagem cedida pelo CEDOC-UNB
Em Gombrich (2007, p.4) ele diz que "não pricisamos da arte para demonstrar que é errônea essa maneira de ver as  coisas. Qualquer manual de psicologia nos fornecerá exemplos desconcertantes da complexidade das questões em pauta". Panofsky (2009) nos diz que a intenção original não pode ser absolutamente determinada, - é impossível definir as intenções, com precisão científica. As intenções daqueles que produzem os objetos são condicionadas pelos padrões da época e  meio ambiente em que vivem. Nossa avaliação dessas intenções é mentalmente influenciada por nossa própria atitude por sua vez depende de nossas experiências. Individuais bem como de nossa situação histórica.

Fonte: Imagem cedida pelo CEDOC-UNB
Até agora, falamos da obra como representação e da fotografia, no entanto isso também se reflete nos arquivos, pois as obras de arte quando disposta no museu ou numa exposição tem suas características descritivas, mas não de acordo com panofsky (2009). Pois, se vê a obra em si e não a sua intencionalidade e demais aspectos, dando assim, condições de se criar uma enormidade de descrições. Porém quando falamos dos acervos fotográficos, aqui denominados de arquivos imagéticos os procedimentos não são os mesmos, Lopez (1999) nos traz algumas informações valiosas: 

Os organizadores de acervos de documentos imagéticos tendem, muitas vezes, a valorizar os conteúdos informativos da imagem, ao invés de seu contexto de produção, isto é, os motivos pelos quais os documentos foram produzidos. Deste modo, tem-se buscado, tanto para os procedimentos do arranjo, como para a descrição documental, a inserção dos “conteúdos” de cada imagem em imensos bandos de dados, alimentados pela ilusão (quase cientificista) de que esta classificação detalhada é satisfatória para dar conta de todas (ou quase todas) as buscas possíveis. Assim, assume-se uma determinada interpretação da imagem como a única “leitura” correta, ou, ao menos, como a mais “objetiva”. Capaz de sintetizar, de modo quase universal, as imagens em questão. Como exemplo, podemos citar o uso do método de unitermos o descritores recomendado por diversos manuais nacionais, os quais, aliás, encaram os arquivos fotográficos como uma categoria à parte dos demais arquivos, muitas vezes denominado-os de “arquivos especiais”.

Nas fotografias utilizadas nos exemplos acima, seriamos capazes de poder fazer a descrição de forma satisfatória? Mesmo sabendo que elas fazem parte de um contexto institucional administrativo – UNB/CEDOC? Subentende-se no entanto, por pertencerem a um arquivo institucional deveriam então dar-nos condições para tal. De acordo com Lopez (1999) isso não é possível, faltam elementos que nos dêem subsídios para isso, principalmente se entendermos os pontos de vista elencados nas obras de Panofsky e  Gombrich.

Referências
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. 16. ed. Trad. Álvaro Cabral.Rio de Janeiro: LTC, 2008._________, E.H. Atre e Ilusão: Um estudo da psicologia da representação  pictórica. 4 ed. Trad. Raul de Sá Barbosa.  São Paulo: WFMMartins Foncesa, 2007.LOPEZ, André P. A. Documentos imagéticos de arquivo: Uma tentativa de utilização de alguns conceitos de Panofsky. Sinopses São Paulo n.31 p. 49-55 jun. 1999.PANOSFSKY, Erwin. Significado das Artes Visuais. 3. ed. 3. reimp. Trad. Maria C.F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2009.  
Luiz Carlos Flôres de Assumpão e Cleofas Minari Righetti

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Jogo dos 2 erros

Imagens copiadas de O Globo

A pouco tempo fomos surpreendidos com a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, e fomos por volta de um mês inteiro bombardeados com notícias a respeito. Foi surpreendente notar a necessidade da imagem como fonte de prova com a ansiosa expectativa de se ver o homem morto no papel fotográfico. Enfim... tal imagem não foi divulgada para que pudermos ter matéria prima de um post. Entretanto, a notícia de um jornal em particular chamou a atenção a respeito do "apelo imagético":

Observem a imagem e identifiquem o que tem de diferente entre a fotografia mais acima e a que aparece no jornal. Não reparou diferença? No que foi publicado no jornal não aparecem a Secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton e nem Audrey Tomason, ao fundo, assessora de contraterrorismo na Casa Branca. Enfim.. Trata-se de um jornal ultraortodoxo judaico, o Der Zeitung - que pela sua orientação religiosa - considera inapropriado que haja divulgação de imagem de mulher.

O que vem ao caso aqui não é o discurso religioso, mas que implicações este fato curioso pode ter quanto a maneira que a imagem é compreendida na sociedade, bem como a capacidade desse jornal de transpassar a veracidade de documentos imagéticos.
"A experiência recriativa de uma obra de arte depende, portanto, não apenas da sensibilidade natural e do preparo visual do espectador, mas também de sua bagagem cultural."
(PANOFSKY, 1991, p.39.)
Fazendo-se um entendimento análogo entre "obra de arte" e fotografia - por ambas tratarem de experiências imagéticas - Panofsky sugere que a compreensão da imagem encontra limite nos nossos valores culturais. Entretanto, armados do aparato tecnológico, esse jornal simplesmente suprimiu aquilo que é culturalmente "incompreensível" (ou inaceitável) em uma imagem jornalística: a figura feminina.

É óbvio que isto resulta em grandes perdas quanto a veracidade da imagem enquanto documento, conseqüentemente, também não se compreende o sentido total da imagem seja em sua análise formal pura, seja na atribuição de sentido as expressões nela captadas; embora esta última análise também se limite a valores culturais. Quanto a forma pura da imagem, diríamos sobre Hilary Clinton que se trata de uma mulher loira de meia idade... depois falaríamos das outras 12 pessoas, dos equipamentos, sem sair deste nível de detalhamento. Quanto à atribuição de sentido poderíamos dizer quem são as pessoas, que supostamente demonstram um estado de atenção e preocupação e Hilary Clinton (se não estiver bocejando disfarçadamente) é a principal figura na imagem a evidenciar tal prontidão.

"Existem duas coisas, portanto, que nos devemos perguntar sempre se acharmos falhas na exatidão de um quadro. Uma é se o artista não teria suas razões para mudar a aparência daquilo que viu. [...] A outra é que nunca deveríamos condenar uma obra por estar incorretamente desenhada, a menos que tenhamos a profunda convicção de estarmos certos e o pintor errado." 
(GOMBRICH, 2000, p. 18.)
Mantendo a mesma analogia na relação "quadro"-fotografia, pelo mesmo motivo defendido por Gombrich, poderíamos contrapor qualquer acusação que se pudesse contra esse jornal, a não ser que tivéssemos absoluta certeza que o Deus desses judeus não se incomodaria que mulheres fossem fotografadas (ou ainda, que tal Deus não exista).

Certo... talvez não possamos discutir o mérito da imagem modificada, mas não nos é proibido debater as implicações que tal fato tem para a sua compreensão, pois esta discussão existe porque nossa abordagem sobre a fotografia mescla arte, técnica, e organicidade arquivística. Mas até que ponto a compreensão dos três pode (deve) ser misturada?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

1º Prêmio Internacional de Fotografia SEDIC

A Asociasión Española de Documentación e Información convoca todos os interessados a participarem do 1º Prêmio Internacional de Fotografia.

A obra premiada será publica na íntegra ou um detalhe da mesma como capa de um livro da editora Pàginas de Espuma, em qualquer de suas coleções. E receberá um prêmio em dinheiro de 1500 euros.

Ela também será incluída de forma destacada em uma exposição virtual na página do SEDIC  http://www.swedic.es, em uma exposição física itinerante através de cidades diferentes que será anunciada oportunamente e com a devida antecedência.

Para mais informações clique  aqui

Postado por Cleila Barbosa