quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A imagem do rei


Quanto mais distante da população e de seus pares internacionais um governante se encontra mais necessário é a fixação de uma normatização visual que além de o identificar também o legitime como autoridade máxima. A brilhante sacada de Ettore Scola en "La nuit de Varennes", na qual a tirana é identificada por verossimilhança com o busto gravado em uma moeda, continua sendo muito utilizada, ainda hoje, em papel moeda. Mesmo no Brasil do século XXI, e em outros países, o expediente da "foto oficial", a ser colocada nas repartições públicas ajuda a cumprir as funções de aproximar, identificar e legitimar a pessoa do governante. Na Coréia do Norte tais funções expandem-se (ou voltam-se prioritariamente) para a comunidade externa. Do obscuro jogo político travado nos bastidores de um regime fechado muito pouco se sabe e, menos ainda, quem são os atores políticos principais e que feições têm. Antes mesmo do resultado final das eleições estadonidenses e antes da "foto oficial" de Obama, o mundo já conhecia o rosto do futuro govertante, ainda que a Sarah Palin tivesse sido vitoriosa. A "foto oficial" amplamente difundida pelo governo nortecoreano no mês passado (ver notícia aqui) revela a verdadeira face da monarquia familiar e apresenta para o exterior a nova composição dos principais cargos do regime. Se os egípcios, por medo do tempo que tudo deteriora, desenvolveram sofisticadas técnicas de preservação da imagem (e do próprio corpo) do governante, o mundo atual, da circulação em massa de informações pela Internet, quase que instantaneamente eternizou a cara de um regime que mal começou. Resta saber se no futuro tais informações imagéticas ainda estarão disponíveis e se serão corretamente identificadas. Não deverá ser mais difícil do que recompor o nariz da Esfínge de Gizé para identificar uma possível feição de Faraó.




Um comentário:

  1. Ah cara, achei legal o blog em seu conjunto, bem coeso, simpatizo com as movimentações que ele influi.

    ilustrado e focado, para usar adjetivos imagéticos.

    abraço!

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