terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fotografar para ocultar?

Imagens copiadas de Chocolá Design

Olhe atentamente para as imagens acima e diga o que elas têm em comum? Se você localizou o Homem Invisível, acertou; parabéns! já pode se candidatar para analisar imagens de camuflagem junto às Forças Armadas. Se ainda não viu ninguém, clique nas fotos para vê-las em tamanho maior e tente localizar Wally, quer dizer Liu Bolin. Na imagem do supermercado é mais fácil, porém custei a encontrá-lo na foto do trator. 

O efeito visual incrível só é obtido após uma árdua preparação do modelo, literalmente pintado de acordo com o fundo da cena, nos  mínimos detalhes. A respiração do modelo também influencia e as fotos divulgadas provavelmente representam uma escolha de um incontável conjunto de takes e testes. O ângulo e iluminação para a tomada da imagem também são essenciais para que a ilusão funcione. A perspectiva, que jamais nos dará a profundidade de uma cena, apenas sua simulação (por convenção, familiaridade e iconicidade) também colabora bastante. 

Em uma cena real, ao vivo, em 3D, poderíamos ser momentaneamente iludidos apenas. Um simples movimento de nosso corpo, de nossa cabeça, que nos fizesse mudar o foco da visão, imediatamente destruiria a "magia" da cena. Ser mágico de show deve ser mais complicado do que homem invisível de fotos; daí a necessidade que o primeiro tem de buscar artifícios para "congelar" a atenção do público. No segundo caso, o esforço está em manter-se congelado junto com todo o ambiente no momento do click.

A brincadeira nos coloca importantes questões do ponto de vista do tratamento com a informação fotográfica, na medida em que não podemos acreditar que sempre iremos conseguir identificar todos os elementos de uma imagem fotográfica. Por vezes eles poderão estar ocultos, intencionalmente (como nos exemplos acima), acidentalmente (e podermos nunca nos dar conta disso), tecnicamente (como a ausência de pessoas em grandes cidades em fotos início do século XX), ou até mesmo historicamente (elementos que não são imediatamente identificáveis pela nossa atual cultura visual, mas que poderiam sê-los no passado). 

No caso dos arquivos, se o contexto arquivístico de criação arquivística não for considerado como elemento qualificador do documento o risco de perda de organicidade é muito grande e pode comprometer irremediavelmente sua qualidade de documento de arquivo. Não se trata de cair da falácia positivista da "objetividade" Vs. "subjetividade", porém de tentar entender o documento dentro do complexo ambiente no qual se originou (e sua compreensão vai muito mais além do registro fotográfico, englobando a cultura, a técnica, as pessoas, os equipamentos, a história etc.) naquilo que é a parcela mais invariável de tal complexidade.

A questão que se coloca, então, é como tratar arquivisticamente documentos imagéticos que nos ocultam informações visuais fundamentais. A resposta é simples, tratando-os como documentos de arquivo, isto é: compreendendo antes suas informações e vínculos contextuais. No exemplo deste post a organização de fotos que têm por função principal camuflar o modelo apresentarão uma solução bastante distinta da organização que seria dada a fotos sobre máquinas de construção civil e comércio varejista.

Recentemente Joan Boadas proferiu palestra sobre patrimônio fotográfico e indicou a necessidade de uma compreensão mais lata e ampla do conceito de patrimônio, que não pode ser restrito às imagens. Isabel Wschebor agregou comentário sobre a importância da contexto arquivístico como elemento mais invariável para direcionar o delicado processo sistematização de significado informacional aos documentos fotográficos de arquivo. 
  • Algumas diretrizes básicas que nortearam a abordagem sobre patrimônio na palestra de Joan Boadas podem ser vistas aqui
  • A mencionada palestra pode ser vista na íntegra aqui (é o vídeo com 2h:34min:45seg).
  • Breves informações sobre Joan Boadas podem ser obtidas aqui
  • Breves informações sobre Isabel Wschebor podem ser obtidas aqui

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